quinta-feira, 26 de junho de 2014

O QUE É E PARA QUE SERVE A RELIGIÃO?


O conceito e a finalidade da religião tem sido motivo de amplo debate acadêmico e teológico. Fatos históricos e relevantes intensificaram as discussões e levantaram questionamentos diversos. Dentre eles destacamos, no campo social, a Revolução Industrial (Inglaterra), na cultura o Iluminismo (Alemanha e França), na política a Revolução Francesa (França). Como resultado destes movimentos surge à necessidade de investigação e pesquisa.

 Os pensadores e estudiosos se revezam em formular teorias e encontrar respostas. Para Kant a religião é uma relação entre Deus e a moral do homem. Deste modo Deus é o arquétipo da moral. Ludwig considera a religião como criação humana no estilo de projeção. O homem projeta na religião a segurança futura e o sentido presente e real para a existência humana. Para Karl Max a religião é elemento secundário, sintoma de uma sociedade enferma. Cria e mantém as pessoas em alienação constante. Para Nietzehe a religião, entre outros males, gera submissão. Já para Shmith a religião e seus ritos, como o ritual do sacrifício, agregam as pessoas e formam as sociedades. Seguindo esta linha, Durkheim enfatiza os “fatos sociais” – a religião com suas crenças, ritos e símbolos unem e estabelecem uma comunidade. Para estes últimos a religião é importante e tem função sociológica.

Já em anos recentes o filósofo e sociólogo alemão Habermas considera relevante e reconhece na religião as raízes da ética. A obrigação moral sintetiza Habermas, deriva do sagrado que é capaz de manter a sociedade unida por meio de um consenso generalizado. Assim, segundo Habermas, é a religião que imprime a orientação ética para a práxis diária do cidadão.

Diante deste contexto temos basicamente duas classes de pensadores que são excludentes entre si. De um lado temos aqueles que reduzem e desprezam a religião e a consideram como um obstáculo para o progresso. Do outro lado os que enfatizam ser a religião um elemento necessário para evitar o caos social e moral da humanidade. Deste modo, enquanto que para o Iluminismo a religião é um erro de percurso, para a sociologia a religião é imprescindível e contribui no aspecto sociológico.

Sob esta temática, concordando com Habermas, a religião constitui desafio cognitivo e estabelece as normas sociais e não o contrário. Assim a religião está presente na esfera pública por meio das ações de seus cidadãos e não pode ser banida. Seus valores mantêm a base da ordem pública por meio de regras e procedimentos. Em conseqüência os valores religiosos são o fundamento da democracia tão cara ao cidadão livre. Muitos dos conceitos cristãos, por exemplo, foram transformados em razões laicas. Nosso código penal está permeado de valores religiosos.

   No entanto, no Brasil, uma crescente tensão entre estado e religião tem alcançado debates acalorados. É necessário dar uma maior atenção a estas questões e não ignorá-las. Assuntos como “relações homoafetivas” e “aborto” que são temas éticos da Religião são objetos de votação no Congresso Nacional e Superior Tribunal Federal. As decisões influenciam a vida das pessoas e sua religiosidade. O estado laico não pode impor sua linguagem e nem impedir a prática dos valores do cidadão religioso. Considerando a religião no aspecto sociológico como raízes da ética, a laicidade deve ser assumida como valor a ser discutido de acordo com o interesse público e a religiosidade do cidadão. Creio que no debate atual, é fundamental o equilíbrio e a mediação entre a religião e as questões laicas.
Pr Douglas Baptista - Edição Antonio Carlos Pimenta

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